
Por Alexandre Silva (*)
A abundância digital esconde uma escassez perigosa: a da confiança. A revolução tecnológica, apesar de conectar, desafia a qualidade e a ética da informação. A literacia digital deixou de ser opcional para se tornar o pilar da cidadania no século XXI, um dever cívico e institucional, especialmente para quem comunica online.
A literacia digital dos cidadãos não é apenas uma responsabilidade do sistema educativo, mas também um dever cívico e institucional de quem comunica com o público hoje, ao alcance de todos através de qualquer rede social ou de um sítio/página na internet. A literacia digital passou de competência opcional a requisito fundamental para o exercício pleno dos direitos e deveres em sociedade pode ser mesmo o pilar da cidadania plena no século XXI.
No digital, ser cidadão implica mais que ler e escrever; exige navegar criticamente, criar e proteger-se e, neste território, o DigComp europeu é um farol fundamental para mapear, desenvolver e avaliar as competências digitais dos cidadãos europeus. Neste espaço, o impacto das palavras, imagens e decisões de partilha pode ser profundo, tanto na vida das pessoas quanto na saúde democrática das sociedades.
Se antes a informação era monopólio de poucos, hoje, cada clique transforma-nos em potenciais produtores de conteúdo. Este poder inédito acarreta uma responsabilidade frequentemente ignorada. Um perfil social, um canal online, são participações ativas na esfera pública digital, onde cada palavra e partilha ecoam profundamente.
Ser produtor exige zelar pela verdade, respeito e utilidade. Literacia digital é mais que usar ferramentas. É avaliar fontes, distinguir factos de opiniões, detetar desinformação e proteger dados. A linha entre consumidor e criador esbateu-se: alimentamos algoritmos, amplificamos narrativas, moldamos o digital. A cidadania digital clama por ética e crítica em cada interação online.
Formar cidadãos digitais é formar comunicadores responsáveis, integrando a reflexão sobre produção de conteúdo na educação. Produtores devem ser facilitadores da literacia, mediando a complexidade, contextualizando e combatendo a desinformação para empoderar o público. Não basta noticiar, é preciso contextualizar, esclarecer, combater a desinformação e empoderar o leitor/espectador para que possa interpretar, questionar e agir. Mas entender o que faz sentido publicar, qual o impacto de uma publicação, como garantir que contribuímos para um ambiente informativos mais saudável e inclusivo, requer um compromisso ético renovado com a clareza, a verificabilidade e a inclusão.
As empresas, enquanto entidades com presença marcante na vida económica e social, devem adotar práticas de comunicação transparente, acessível e ética. Empresas e instituições públicas têm um papel crucial. As primeiras devem comunicar de forma transparente e ética, contribuindo para cidadãos informados. As segundas, como guardiãs do interesse coletivo, devem oferecer informação isenta e confiável, em plataformas acessíveis e intuitivas.
Proteger e promover um jornalismo competente e independente é vital. A informação de qualidade tem um custo, mas é essencial para a democracia. A comunicação social tem o dever de informar com verdade, mas também o direito de operar sem pressões económicas ou políticas que comprometam a sua integridade. É imperativo favorecer meios de comunicação públicos e independentes, que operem com recursos adequados e liberdade editorial, seja na imprensa escrita, na rádio, na televisão ou nas plataformas digitais.
A comunicação democrática é uma responsabilidade coletiva. A transição digital traz riscos de exclusão. Todos têm um papel na construção de um ecossistema informativo saudável. Cabe aos produtores de conteúdo, nomeadamente media e instituições, serem os verdadeiros agentes da cidadania digital.
(*) presidente do Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Politécnico de Coimbra
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